quarta-feira, 30 de junho de 2010

Realidade e Luis Carlos Prestes

por CAROLINA MOTTA

O ano de 1968 ficou marcado pelos acontecimentos políticos, culturais e nas mudanças tão significativas que o mundo sofreu. Porém, como será que ficou a imprensa da época? A Revista Realidade mostrou as diferenças entre notícias, comportamento e visão daquele ano .

Uma reportagem de Paulo Patarra sobre Luis Carlos Prestes é a principal matéria da Realidade de dezembro de 1968. Ele narra como chegou até Prestes, na madrugada de 19 de setembro de 1968 .
Patarra, diretor da revista Realidade, encontrou-se, ainda no escuro, com um homem que aparentava 35 anos de idade, emissário do líder comunista Luis Carlos Prestes, então vivendo na clandestinidade, obvio, em lugar desconhecido e, segundo o jornalista revelaria a seus leitores, com rosto também desconhecido.

A edição de capa de dezembro desse ano, que circulava às vésperas da edição do AI5, trazia um desenho do Cavaleiro da Esperança, com o título: “Este rosto não existe mais” e tinha no seu interior, 14 páginas com uma entrevista exclusiva e reveladora do homem, que naquele tempo de regime militar e forte repressão encarnava o inimigo número um do governo.

O diretor da Realidade encontrou-se com seu interlocutor na madrugada fria paulista. O homem vendou-lhe os olhos com um pano preto e conferiu se tinha cumprido o trato estabelecido de não levar relógio. Em seguida o conduziu até uma perua sem janelas no interior. O jornalista deitou-se num colchão. Uma cortina preta separava a cabine do interior da camionete. Então, descreve Patarra, seguiram viagem durante algumas horas por estradas com muitas curvas, até o carro adentrar numa garagem escura. Com a luz de uma lanterna nos olhos, para que não pudesse identificar a residência, o jornalista foi conduzido até uma sala espaçosa, a meia luz, “um cobertor grosso na janela deixava passar um resto de sol”, onde o entrevistado o aguardava. Patarra teve de ficar a uma razoável distância de Prestes, mas mesmo assim pode observar que o seu rosto não conferia com o dos retratos oficiais e oficiosos.

 A matéria o descreve como um homem “sem rosto” porque havia feito plásticas e mudado de fisionomia ao longo dos quarto anos (1964-1968), e o autor da matéria não tinha certeza se era realmente Prestes, que o tornou ansioso.

O jornalista não soube precisar o roteiro, mas “não sei por que me pareceu que a estrada era a de São Paulo-Belo Horizonte”. Sentiu grande desconforto pelo longo período de escuridão forçada: “Ficar de olhos fechados durante tanto tempo é de um desconforto doloroso. Tão diferente se torna a relação entre a gente e o mundo”. Mas foi na hora de fotografar que sentiu as limitações impostas pelas circunstâncias. Foi-lhe permitido fazer fotos em P&B (”nos não temos possibilidade de revelar filme colorido”) e de perfil. O filme deveria ficar com eles para ser revelado e as fotos, mais tarde, encaminhadas pelo PCB à redação. Patarra bateu 35 fotos, mas a escuridão do ambiente comprometeu o resultado.

Em 29 de setembro recebeu um envelope anônimo com as fotos liberadas. Não aproveitou nenhuma na reportagem que seria ilustrada com fotos de arquivo e a capa com uma ilustração encomendada a um designer.

O resultado dessa reportagem que Realidade definiu “não apenas como um furo jornalístico, mas um documento importante” da história do Brasil, de fato valeu pela exposição do pensamento de uma das mais importantes personalidades da política brasileira no século XX.

A reportagem resultou num Prêmio Esso de Jornalismo para Patarra que teve acesso a Prestes por conta de sua militância no partido na década de 50. Mas, a repercussão não esteve à altura do personagem. É que quando a revista chegou às bancas a mídia discutia um outro assunto: a crise entre o Congresso e o regime militar (episódio Moreira Alves). No dia 13/12 a mídia silenciava de vez perante a exibição de força de tanques e soldados armados e a prisão de jornalistas, respaldada pelo recém sancionado ato institucional número 5.

Obs.: Seria essa a última entrevista do jornalista Patarra em Realidade; logo assumiria o cargo de diretor de novas publicações da Abril.

Fonte: Almanaque da Comunicação -  por Nelson Cadena

quarta-feira, 23 de junho de 2010

"Pedrinho não passa de uma criança"

por ROBERTA HOERTEL

Era essa a chamada de uma matéria da Revista Realidade de setembro de 1968. Há 42 anos a revista parecia escrever sobre a realidade do país pelas décadas subsequentes. “Pedrinho não passa de uma criança – No entanto, dizem os jornais, é um bandido perigoso, que já matou três pessoas e ameaça toda uma cidade.” Talvez seja esta uma das mais atuais matérias da revista.

Ao londo das páginas, Dirceu Soares conta a história de Pedrinho, um adolescente de 14 anos que ficou conhecido em todo o país por seus crimes. Sua história começou na segunda metade dos anos 60, em Vila Clara, Zona Sul de São Paulo. Era acusado de pertencer a uma quadrilha que roubava e matava indivíduos da classe média paulistana.
 A revista mostrou que, já naquela época, meninos de bairros pobres brasileiros “aprendem a fumar maconha, tomar injeção de tóxicos (picada), a beber, a ter relações sexuais com prostitutas, a atirar, e a se familiarizar com o crime”. E nenhum brasileiro acharia estranho caso visse essa mesma reportagem estampar as páginas de um jornal na próxima semana.

A revista não parou por aí e, em maio de 1972, publico um especial dedicado às grandes metrópoles brasileiras. São Paulo, Rio, Porto Alegre, Belo Horizonte, Salvador e Recife estavam ali representadas. E como não podia deixar de ser, nas páginas daquela revista, a violência também estava estampada. Uma longa matéria foi dedicada a assaltos, sequestros-relâmpagos para saque em contas bancárias, homicídios, e o principal, como a população se sentia diante da insegurança que assolava suas vidas.

 Desta vez, o personagem principal era Portuguesinho. O jovem tinha 17 anos e havia formado uma quadrilha composta apenas por jovens adolescentes, que antes mesmo de completarem duas décadas de vida já tinham em seu “currículo” uma série de furtos e homicídios.

 A Revista Realidade acabou, mas a realidade do país continua a mesma.

Realidade e a "Juventude diante do sexo"

por CAROLINA MOTTA

Assim como já citamos, a Realidade chamou a atenção pelo seu aspecto diferenciado em termos do seu formato e diagramação, da construção textual das suas reportagens, bem como pela dimensão dos seus textos. Falamos do seu estilo inovador e também o seu caráter “audacioso” e até “transgressor”, em virtude da abordagem que dava às questões pertinentes ao campo político e comportamental.

Em outro post, mostramos essa característica da Revista Realidade, ao falar da matéria sobre  “A mulher brasileira, hoje”, na qual, segundo o editorial de apresentação, ela pretendia discutir com seus leitores a revolução tranqüila e necessária, mas nem por isso menos dramática, que a mulher brasileira estava realizando naquele momento.  Tal edição foi embargada o juiz da Vara de menores considerou o conteúdo da revista obsceno, profundamente ofensivo à dignidade e à honra da mulher, bem como ao pudor moral e aos bons costumes.

Agora, falaremos de outra matéria polêmica da Revista.
Aonteceu em agosto de 1966, quando a revista publicou uma matéria intitulada “A Juventude diante do sexo”, que trazia a primeira parte dos resultados de uma pesquisa onde mil jovens, dentre moças e rapazes do RJ e SP, entre 18 e 21 anos, responderam a um questionário que tinha o objetivo de descobrir o que eles conheciam, falavam e faziam a respeito da sua sexualidade.
Os planos da revista Realidade eram apresentar aos leitores, no mês seguinte, setembro de 1966, a conclusão dessa pesquisa, o que, não foi possível, já que a revista recebeu uma advertência do Juiz de menores da Guanabara, Alberto Cavalcanti de Gusmão, comunicando que apreenderia aquela edição da revista caso publicasse a conclusão da tal pesquisa que, do seu ponto de vista era “Obscena” e “chocante”. Diante dessa advertência, a revista Realidade respondeu com um editorial, onde explicava aos seus leitores que havia suspendido.

Fonte: A juventude diante do sexo. Realidade, São Paulo: Editora Abril, n.6, Set. 1966.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Realidade em cartas

por VANESSA OLIVEIRA

Nos três anos de sua primeira e mais extraordinária fase, a Revista Realidade chegou a ter circulação mensal de 500 mil exemplares. E não foi à toa. A publicação se diferenciava ao abordar as tendências de comportamento de sua época, chamada pelos próprios jornalistas, que acompanhavam tudo de perto, de “revolução moral”.

Virgindade antes do casamento, legalização do divórcio, independência da mulher, liberdade sexual e celibato eram alguns dos temas geralmente abordados. Sua seção de cartas, que tinha o objetivo de avaliar a recepção das polêmicas reportagens, era um tanto quanto movimentada mas costumava receber mais aplausos do que protestos.

Uma leitora, ao comentar a ameaça de apreensão por obscenidade do número que tratava de sexo entre jovens, escreveu: "Esse Dr. Gusmão [o juiz de menores responsável pela censura] não tem muita imaginação. Ou tem muita".

Já em uma reportagem sobre preconceito racial, a resposta de um leitor “branco e universitário” foi surpreendente: “Não sou racista, mas às vezes não suporto a presença de um branco”.

O texto que enfocou a homossexualidade, porém, foi censurado pelos leitores. Ao invés de denunciar o preconceito, como habitualmente fazia a revista, o repórter tratou a opção sexual como "doença com possibilidade de cura”. Mais de 14 cartas chegaram à redação.

O resultado daquele primeiro momento - que terminou em 1968 após a saída da primeira equipe de jornalistas- ,de qualquer maneira, é vastamente favorável à revista.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Chico Xavier [2]

por CARLOS CARONI

Há poucos dias postamos a respeito de uma reportagem de Realidade sobre Chico Xavier (Disponível aqui).

Faltou mencionar que, em abril deste ano, o médium também esteve na capa da Super Interessante. Ao longo da matéria, a Revista Realidade é citada por diversas vezes. Eis um dos trechos:

A imprensa seguiu na cola. Em 1971, um repórter da revista Realidade, José Hamilton Ribeiro, visitou as sessões de psicografia. E denunciou: tinha truque ali. "Meu fotógrafo viu um dos assessores de Chico levantar o paletó discretamente e borrifar perfume no ar. As pessoas pensavam que o perfume vinha dos espíritos", diz Ribeiro. Os questionamentos colocavam Chico cada vez mais em evidência no país. E o prepararam para aquela que seria sua prova final na mídia, também em 1971: o programa Pinga-Fogo, da TV Tupi.

Clique aqui para conferir a íntegra.

p.s Não é nosso objetivo fazer nenhum juízo de valor do homem Chico Xavier e muito menos de suas contribuições para o desenvolvimento do Espiritismo no Brasil. O assunto só está aqui presente por sua relação com a publicação-tema de nosso blog.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Revista Realidade citada na Desciclopédia ?

por CARLOS CARONI

É, é isso mesmo. O artigo, de fato,  não é sobre a Realidade em si. Trata-se de uma brincadeira com a revista MAD, mas vale a nota. Mesmo considerando que o site é humorístico, a lembrança não deixa de ser um reconhecimento da qualidade da publicação.

Eis o trecho:

"A revista aportou em terras brasileiras no início dos anos 70. Lotário Vecchi, impressionado com o vigor do new jornalism norte-americano decide publicar uma edição nacional da Mad, para concorrer com a revista Realidade, na época o expoente do Novo Jornalismo brasileiro. Para auxiliá-lo, Vecchi convoca o editor Otacílio D’Assunção, mais conhecido como Ota. A revista abriu oportunidade para diversos articulista brasileiros pudessem publicar suas opiniões e críticas."

terça-feira, 15 de junho de 2010

Realidade e o jornalismo esportivo

por CARLOS CARONI

Logo em seu primeiro exemplar, Realidade ousou trazendo uma matéria que previa o triunfo, que jamais ocorreria, do Brasil na Copa de 1966 (leia mais). A título de curiosidade, reproduzo trecho do livro do Jornalista J.S Faro (ver entrevista) sobre a reportagem publicada logo após o mundial. O discurso, feito há mais de 40 anos, é um tanto quanto semelhante com o pós-derrota de 2006. Vejam vocês mesmos.

“Mas o que aconteceu? Onde está o futebol brasileiro?.”, perguntavam os repórteres. Na resposta, uma lista interminável de críticas, entre elas a ante-visão de que .“o futebol de hoje exige preparo físico, tática, trabalho de equipe e planejamento inteligente. Exige, enfim, dirigentes à altura do desafio. Por desgraça nossa, não os tivemos.”. Era a modernização chegando ao futebol, substituindo a velha concepção - ainda segundo os jornalistas - do do exclusivo brilho individual dos atletas como condição determinante das vitórias."

Se em campos ingleses a Seleção esteve longe de fazer um bom papel, Realidade brilhava mudando os conceitos de jornalismo esportivo. Mais do que tratar apenas do jogo em si, a publicação passou a mostrar o caráter mítico do esporte mais popular do país.

A triste sina do goleiro (quase sempre vilão), o fascínio que Flamengo e Corinthians exercem no imaginário de suas imensas torcidas e a rivalidade entre Cruzeiro e Atlético x Mineiro foram só algumas das muitas reportagens que humanizaram o desporto. Tão democrático que era capaz de achar pontos em comum entre ricos e pobres, e até entre ferrenhos adversários políticos:

“No Palácio da Alvorada, dona Iolanda Costa e Silva entra silenciosamente na sala em que o marido conversa com dois ministros. Ele sorri quando ela lhe dá a notícia do gol marcado a 1.200 quilômetros de distância. Quase o mesmo sorriso do sr. João Goulart, sentado na varanda de sua fazenda uruguaia entre um rádio a todo volume e a cuia de chimarrão."

Gol de Placa.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Realidade também no twitter

por ROBERTA HOERTEL 


A mais nova rede social caiu no gosto do público e virou mania. Febre entre os jovens, o twitter também foi amplamente adotado no meio jornalístico.
O Blog da Revista Realidade não ficou para trás e tambén se rendeu às graças dessa ferramenta de comunicação. O twitter é atualizado quase diariamente sempre com alguns destaques sobre o blog e a revista.
Se você também é adepto do twitter e admira a Realidade, siga-nos @virourealidade

domingo, 13 de junho de 2010

Os frutos da Realidade

por ROBERTA HOERTEL


A revista realidade era uma revista mensal. O prazo para fechamento das matérias era maior do que as revistas de hoje. Os repórteres podiam, e deviam, se aprofundar mais nas matérias. O resultado disso eram revistas recheadas com textos impressionistas (de autor), que prendiam o leitor por muitas páginas. Era raro uma matéria ser curta. Para Hamilton Ribeiro, os textos da Realidade eram quase ensaios. O mesmo jornalista, em seu livro O repórter do século, indaga se ainda haveria espaço para esse tipo de jornalismo nos dias de hoje. Ele acha difícil.

Hélio Campos Mello, também jornalista, não concorda com Zé Hamilton. Não só acredita que ainda há espaço para aquele antigo jornalismo, de peso e qualidade, como lançou uma revista inspirada na extinta Realidade. A Revista Brasileiros foi fundada em 2006 e é dirigida por um grupo de jornalistas renomados que têm o propósito de resgatar as grandes reportagens realizadas nos anos 60 e 70. Assim como fez Realidade, o grupo da Brasileiros sonha em revolucionar o mercado jornalístico do país. A inspiração é declarada, orgulhosamente, e está explícita no edital de seu primeiro exemplar, no qual o diretor Hélio Campos escreve:

“Este é seu primeiro número e o início de um trabalho em que a saga dos personagens deste país plural será o alvo de nossos repórteres. Qualquer morador do Brasil, qualquer brasileiro fora do País, qualquer um que tenha uma boa história para contar nos interessa. [...] Como o País, Brasileiros é uma revista plural. Não é chapa branca -não está aqui para bajular este ou aquele governo-, nem é chapa preta -não tem como missão promover o apocalipse a qualquer custo e a qualquer prêmio. Brasileiros não terá pruridos nem para elogiar, nem para criticar.”

Semelhanças não faltam. Nomes de peso e jornalismo de qualidade, a Brasileiros também possui. Em uma época onde internet e telefonemas resolvem todos os problemas, a nova publicação vai até a matéria e resolve tudo lá, vivenciando-a. A revista também acredita que boas reportagens devem ser aprofundadas. Chegar ao extremo da notícia. Uma boa história não deve ser medida em alguns caracteres de um terminal de computador. As matérias são grandes, tem o tamanho necessário para serem contadas por completo, com todos seus detalhes. Textos longos, matérias in loco, profissionais de qualidade que saibam aproveitar os temas... Tudo isso custa caro e dá trabalho. Mas a Brasileiros resolveu reviver essa época do jornalismo do país. E o faz com qualidade.

As marcas que ficarão, daqui a alguns anos se discutem...

Para quem quiser conferir um pouco da revista  Clique aqui

sábado, 12 de junho de 2010

Chico Xavier na Revista Realidade

 por CARLOS CARONI e ROBERTA HOERTEL 

Chico Xavier, o maior dos médiuns brasileiros, recentemente, teve sua vida contada nas telas do cinema. Sucesso de público e de crítica. Muito antes, em novembro de 1971, a Revista Realidade chegou às bancas e abordou o mesmo tema, sem deixar a polêmica de lado. Foram sete página ilustradas com diversas fotografias sobre . Entretanto não foi apenas uma reportagem sobre um importante personagem brasileiro. Era uma matéria de peso sobre um homem que, apesar das desconfianças que causava, ainda possuía grande credibilidade.
 
A história começou quando Amauri Pena, também médium e sobrinho de Chico Xavier, resolveu dar uma declaração aos jornais. Alegando estar amargurado por problemas de consciência,  contou que tudo o que psicografava havia sido criado por sua imaginação. Nenhum de seus trabalhos necessitava da interferência das almas de outro mundo.

Amauri também citou que, assim como o tio, era muito inteligente e tinha facilidade para imitar estilos de outros autores. O tio lia muito e, com ou sem espírito, saberia escrever. Admirava e não desmascarava Chico como homem, mas não acobertaria o médium. Estava instaurado o caos na vida daquele que é considerado a alma brasileira. 


A imprensa seguia todos os seus passos, mesmo quando tentou se refugiar em Uberaba. Realidade não foi diferente, e foi além. Levou um de seus melhores jornalistas, José Hamilton Ribeiro, a uma das sessões de psicografia. Hamilton, com todo seu senso jornalístico, narrou passo a passo o que ocorria naquele local. Sem a crença no espiritismo nem a desconfiança em Chico, o repórter contou ao longo das sete páginas toda a trajetória do médium. 


Amauri foi, posteriormente, tido como alcoólatra e suas afirmações perderam o valor. As dúvidas sobre a veracidade das psicografias de Chico Xavier, entretanto, nunca foram completamente solucionadas. Todavia, o relato de José Hamilton foi incrivelmente fiel e tocante. O texto da  reportagem, publicado há 39 anos, está disponível na internet. Clique aqui e leia a matéria na íntegra

sexta-feira, 11 de junho de 2010

O encontro de Dadá e José Rufino

por CARLOS CARONI e ROBERTA HOERTEL

Retratar fatos cotidianos e reportar acontecimentos comuns nunca foi a intenção da Revista Realidade. O desafio era sempre seu principal conteúdo. E foi assim que, em 1968, a Revista realizou o encontro de Dadá e o Coronel José Rufino. O desafio? Explica-se:

Em maio de 1940, Cristino Gomes da Silva Cleto, o cangaceiro Corisco, estava em casa com sua mulher, Sérgia Ribeiro da Silva, a Dadá, quando os dois foram surpreendidos pelo bando do Coronel José Rufino. Desarmados, após um curto diálogo entre os homens, foram atingidos por tiros de metralhadora. Cristino, na barriga e Dada, na perna. Corisco,resistiu ao ferimento por cerca de dez horas, mas morreu. Dadá teve que amputar a perna. Estava decretado o fim do Cangaço.

Vinte e oito anos após o enfrentamento, a Realidade promoveu o encontro dos dois sobreviventes da época cangaceira brasileira. Ele, bem mais velho e agora doente, chorou ao encontrá-la. Pediu perdão e disse que não queria ter matado Corisco, tudo ocorreu devido ao combate. Ela, esbanjando saúde, disse que o perdoava, mas retrucou a sua versão da história. "Foi um emboscada", afirmou a altiva Dadá.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Paulo Patarra: o pai da revista Realidade

por VANESSA OLIVEIRA
Foto: Associação Brasileira de Imprensa
Paulo Patarra

Paulo Patarra, nascido em 21 de outubro de 1933, era considerado o pai da revista Realidade. Foi o principal responsável pela sua existência e pela fórmula do sucesso que até hoje não se viu igual. Paulo Patarra foi o chefe de redação e levou para trabalhar com ele todo o grupo que planejava montar. Assim, desenvolveu sua linha editorial de grandes reportagens de temas de atualidade. Ele priorizou no Jornalismo as histórias do povo, destacou a mulher, a liberdade sexual, o feminismo, o divórcio (que ainda não era liberado no país), o comportamento da juventude e a música popular.

Patarra procurou tratar de maneira indireta os temas políticos na revista, já que a mesma foi criada na época da ditadura militar. Ele sempre foi um mestre na arte de testar os limites da censura, de avançar e recuar, adaptando conforme a crise. A revista Realidade foi o maior sucesso editorial da imprensa escrita do jornalismo, obteve as maiores tiragens e com isso, entrou para a história como uma das melhores revistas de todos os tempos no Brasil.

Ele passou pela revista “Quatro Rodas”, pela “Rede Globo” e faz parte do “Aqui Agora”. Mas, sua obra máxima foi a Realidade.Em 1968, fez uma entrevista com Luís Carlos Prestes que mereceu ser capa da revista Realidade. Ela foi considerada uma das principais reportagens da trajetória profissional de Patarra e isso lhe rendeu um Prêmio Esso de Jornalismo.

terça-feira, 8 de junho de 2010

New Journalism

por CAROLINA MOTTA

Truman Capote - criador do New Journalism

Como já dissemos anteriormente, a revista Realidade foi inspirada no conceito norte-americano do new journalism. Mas o que seria isso? O New Journalism é um gênero jornalístico surgido na imprensa dos Estados Unidos, na década de 60, que tem como principais expoentes Tom Wolfe, Gay Talese, Norman Mailer e Truman Capote. Classificado como romance de não-ficção, sua principal característica é misturar a narrativa jornalística com a literária. Uma das publicações que popularizaram o novo estilo foi a revista The New Yorker. Em 1956, o escritor americano Truman Capote publicou o perfil do ator Marlon Brando, intitulado "O duque em seus domínios", que é citado como o primeiro texto do gênero.

Talese define dessa forma o New Journalism: "O novo Jornalismo, embora possa ser lido como ficção, não é ficção. É, ou deveria ser, tão verídico, como a mais exata das reportagens, buscando embora uma verdade mais ampla que a possível através da mera compilação de fatos comprováveis, o uso de citações, a adesão ao rígido estilo mais antigo. O novo jornalismo permite, na verdade exige, uma abordagem mais imaginativa da reportagem e consente que o escritor se intrometa na narrativa se o desejar, conforme acontece com freqüência, ou que assuma o papel de observador imparcial, como fazem outros, eu inclusive."

Já Tom Wolfe abre o famoso ensaio The New Journalism, onde fala sobre as origens do gênero e aponta os seus principais expoentes e características com a seguinte declaração:

"Duvido que muitos dos que irei citar neste trabalho tenham se aproximado do jornalismo com a menor intenção de criar um novo jornalismo, um jornalismo melhor, ou uma variedade ligeiramente evoluída. Sei que jamais sonharam que nada do que escrevessem para jornais e revistas fosse causar tal estrago no mundo literário... provocar pânico, roubar da novela o trono de maior dos gêneros literários, dotar a literatura norte-americana de sua primeira orientação nova em meio século...(Wolfe, 1976, p.9)"

O New Journalism espalhou-se rapidamente por todo o mundo. No Brasil, foi aplicado com sucesso na revista Realidade e no Jornal da Tarde dos anos 60, Opinião, Aqui São Paulo, Versus e, mais tarde, na imprensa alternativa, como a seção “Cena Brasileira” escrita com verniz literário no semanário Movimento pelo repórter Murilo Carvalho.

Esse novo estilo radicalizou a linguagem jornalística a ponto de fazê-la beirar a literatura ficcional.

domingo, 6 de junho de 2010

Realidade e o Jornalismo Científico

por ROBERTA HOERTEL

Que a Revista Realidade foi um marco na história do jornalismo brasileiro todos sabem. São incontáveis os benefícios e avanços que vieram juntos com ela. O que poucos sabem, entretanto, é que a Realidade também deu o pontapé inicial para o desenvolvimento do jornalismo científico.

Até então esse tipo de matéria não fazia parte da rotina de um repórter. O tema era considerado muito difícil para um jornalista comum. Quando era necessário realizar uma reportagem relativa à ciência a função era desempenhada por um profissional da área em foco. Fato que nada facilitava a vida das redações. Além ser difícil achar um profissional, de outra área, disponível a escrever para uma revista, era necessário que o mesmo soubesse realizar bem a função de um repórter. Um encontro quase impossível. Esse tipo de reportagem sempre acabava de duas maneiras, ou não entrava para a publicação, ou virava um artigo técnico, o qual os leitores comuns nada entendiam.

A Realidade não iniciou o ciclo de repórteres escrevendo sobre temas científicos, mas o fez com mais qualidade, incluindo, de uma vez por todas, esses temas à vida jornalística. A prova de que esse modelo funcionou é facilmente vista nos prêmios que a revista recebeu, apenas com o Prêmio Esso foram quatro na categoria Informação Científica (Seu Corpo pode ser um bom presente – José Hamilton Ribeiro – 1973; Marcinha tem salvação: Amor – Marcos de Castro – 1969; De que morre o Brasil – José Hamilton Ribeiro – 1968; Uma vida por um rim – José Hamilton ribeiro – 1967).

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Edição da Realidade nas bancas

por CAROLINA MOTTA

Como já havíamos comentado no blog, a edição de 1967 da revista Realidade fez parte de uma edição especial da Revista Veja no mês de maio de 2010. 

O que destacamos dessa vez é que, 40 anos depois, a Editora Abril relançou (isso mesmo!) a edição "A Mulher Brasileira, Hoje", da revista Realidade, que foi censurada pela Justiça em 1967, durante o regime militar.

A revista já está nas bancas e traz na íntegra as 120 páginas do conteúdo original. Além da reimpressão da publicação, o projeto de re-lançamento inclui um suplemento focado na importância de Realidade para a formação do jornalismo brasileiro, com matérias sobre a censura no Brasil e nos contrapontos entre a vida da mulher brasileira em 1967 e em 2010.

Tal revista abordou temas delicados para a época, como aborto, separação, mães solteiras e virgindade. Ela chegou a circular, mas por ordem judicial foi apreendia e acusada de ser obscena.

Obs.: Essa edição pode ser comprada com o especial Mulher da Veja. Não perca essa chance!

terça-feira, 1 de junho de 2010

Realidade na Copa

por CAROLINA MOTTA E VANESSA OLIVEIRA

A Copa do Mundo está chegando. Por isso, vale a pena relembrar as passagens de Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, na revista Realidade. Como já foi falado no blog, o primeiro exemplar da revista trazia o rosto de Pelé com um busby (acessório que a guarda inglesa utiliza na cabeça).

Nessa edição, estávamos às vésperas da Copa do Mundo na Inglaterra e a matéria foi uma espécie de ficção, contando como o Brasil conquistara o tricampeonato do mundo em terras inglesas. Tudo não passou de uma brincadeira, pois o tri só veio em 1970, no México.

Em janeiro 1971, uma matéria futurista intitulada “1990: uma grande indústria chamada Pelé” apresentava uma reportagem que se precipitava e idealizava a imagem do jogador aos 50 anos. A capa trazia sua face maquiada adotando um bigode espesso e grisalho, sobrancelhas brancas, usando um terno escuro e sóbrio, nas mãos duas bolas (uma de futebol e outra coberta de cédulas).

A intenção da matéria era esboçar uma espécie de radiografia dos negócios e planos futuros do jogador-empresário e personalidade bem sucedida que já se percebia. A revista trazia números, que colocavam Pelé a frente de todos os outros jogadores, até mesmo os mais famosos.

"Publicitário - sua imagem vende de roupa a gasolina, de chuteira a drops. Com isso recebe 63.600 cruzeiros por mês, além das comissões e royaltes sobre vendas no Brasil e no exterior". Negociante - os aluguéis de seus sessenta apartamentos e a renda de suas lojas [na cidade de] Santos dão-lhe por volta de 2.500 cruzeiros por mês". Diretor de relações públicas do Banco Industrial de Campina Grande - para atender aos clientes do banco de Campina Grande [agência em Santos] às quintas-feiras, das 14 às 18 horas, quando pode, ele ganha 5000. Ou quase 5000 cruzeiros por hora". Industrial - como presidente da Fiolax [fábrica de fibras elásticas da cidade de Santo André], recebe 10.500 cruzeiros por mês“. (Realidade, 1971:19)