sexta-feira, 14 de maio de 2010

Golpes Contra a "Realidade"

por CAROLINA MOTTA, ROBERTA HOERTEL E VANESSA OLIVEIRA

A Revista Realidade foi objeto de censura em dois episódios, mostrando como, sob a vigência do regime instituído pelo Golpe de 1964, acontecia os impedimentos as liberdades democráticas.

O Golpe de Estado de 1964, no Brasil, foi um desses fatos de tensões sociais, que esteve associado ao medo da “perda da propriedade”, da “perda da liberdade”, da “dissolução da moral e dos bons costumes”,

Depois do golpe e da repressão aos estudantes, artistas e intelectuais, houve um período de ressurgimento de manifestações contrárias ao regime, inclusive na grande imprensa. Acontecia também uma efervescência cultural desde a música até o teatro, porém essas problematizavam a derrota política, repensando o país.

Com esses acontecimentos, setores afinados com a nova ordem estabelecida tentavam enquadradar os “baderneiros” e normalizar supostas interferências na sociedade, sendo essas formas de expressão ou a maneira como alguns assuntos eram tratados. E foi assim que aconteceu embargo de dois números da revista Realidade.

Um exemplo foi a matéria, realizada em 1966, e intitulada “A juventude diante do sexo”. Dentro da reportagem vinha uma pesquisa com mil jovens, entre 18 e 21 anos, que haviam respondido a um questionário com o objetivo de descobrir o que eles conheciam, faziam e falavam sobre o assunto. A reportagem teria continuidade na edição seguinte, porém por uma decisão do Juiz Alberto Cavalcanti Gusmão a matéria não foi divulgada novamente. A revista foi ameaçada de que, caso fosse publicada a continuação, haveria apreensão da edição. O Juiz considerou aquilo como obsceno e chocado. E ainda na mesma edição, a seção Cartas trazia as opiniões sobre a abordagem do tema, configurando uma polêmica entre os leitores que apoiavam a iniciativa da revista e aqueles que eram contra.


Não demorou muito para que a cena voltasse a ocorrer. Em janeiro de 1967 aconteceu o caso mais polêmico da revista. A edição daquele mês seria dedicada ao tema “A mulher brasileira, hoje”. Ao longo da revista seriam discutidas as revoluções que as mulheres brasileiras vinham realizando. Mais uma vez, o Juiz da Vara de Menores, desta vez de São Paulo, considerou o conteúdo obsceno e ofensivo à dignidade e à honra da mulher. Também considerou um ato de atentado ao pudor, a moral e aos bons costumes. Desta vez, a revista nem foi parar nas bancas. O mesmo Juiz, Alberto Gusmão, mandou apreender todas. Acusavam a revista de não fazer apenas pesquisas, mas defender teses, exaltar a mãe solteira, combater a virgindade.

Mas, o advogado da Revista a defendeu com a seguinte tese:

REALIDADE não está pregando que as mulheres deixem de ser virgens, não
está pregando que as mulheres devam se esquivar do casamento, não está
pregando que as mães devam abandonar seus filhos, não está incutindo, por
qualquer forma, que o amor filial desapareça ou diminua, ou que os laços de
família se afrouxem. Mostra as experiências de muitas mulheres a respeito
desses aspectos de desagregação da família, para que todas que se encontram à
beira do perigo, evitem dar o passo fatal”. [grifos meus].

2 comentários:

  1. Olá, meninas!

    Fico muito feliz em ver esse blog novamente "vivo". Parabéns pela iniciativa. Sempre que der, estarei aqui acompanhando. Abraços.

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  2. Olá, gostaria de saber de onde tiraram essas informações. Grata.

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