segunda-feira, 19 de julho de 2010

Entrevista com Walter Firmo

por CAROLINA MOTTA e VANESSA OLIVEIRA
                                                                                                                 
Ele é um dos maiores nomes da fotografia brasileira em todos os tempos, com prêmios internacionais, exposição no mundo inteiro e livros publicados. O carioca Walter Firmo Guimarães da Silva começou como fotógrafo profissional no jornal Última Hora, em 1957.

Passou pelo Jornal do Brasil, Revista Manchete, Veja, Isto é e na Revista Realidade. Nessa última, foi o primeiro repórter-fotográfico contratado, em 1965. Coleciona em seu currículo prêmios, como por exemplo, o prêmio Esso e 9 prêmios Nikon.

Coleciona também em sua carreira livros como "Trilhas do Rosa", pela Editora Scritta com o jornalista Fernando Granato; FIRMO, pela editora Bem-Te-Vi e “Paris, parada sobre imagens”, editado pelo Ministério da Cultura/Funarte.

Atualmente, vem se dedicando a projetos pessoais, ministra workshops em várias capitais do Brasil e também é professor em um ateliê no Rio de Janeiro, onde pode passsar sua experiência aos alunos.    

"Na cor, descobri o Brasil risonho e apaixonado, lascivo e poético", conta Firmo.

VR -Como a fotografia entrou na sua vida?
FIRMO - Fazia o ginásio, tinha eu 16 anos de idade e, como no samba de Paulinho da Viola, a minha mãe queria que eu fosse doutor, já meu pai queria que eu fosse militar, como ele. A professora de Canto Orfeônico (matéria obrigatória naquela época), dona Estefania, orientou a turma que fossemos apreciar livros na biblioteca da escola e, quando lá cheguei, o primeiro livro que me veio às mãos foi um livro sobre revelações em preto-e-branco.Vislumbrado, amanhecia as noites transitando como um mágico a historiar as vidas das pessoas e de seu país.

VR - Em 1965, você integrou a equipe da revista Realidade, como primeiro repórter -fotográfico contratado para o projeto da Editora Abril. Qual foi a importância disso na sua carreira?
FIRMO - A de passar do preto-e-branco para o mundo da cor. Traçar o mundo ensaiando a mulata, o petróleo, o folclore, toda religiosidade, a natureza, os objetos, enfim, aquilo que Luigi Manprin, fotógrafo da Abril, aludiu: "O mundo é colorido, a vida não".

VR - Por quanto tempo, você trabalhou na revista? E qual o motivo da saída?
FIRMO - Trabalhei no projeto durante os dois primeiros anos, fui para lá em setembro de 64, após a redentora. Fiz o número zero, mas, uma semana antes do lançamento da revista, sair após um acordo verbal com Roberto Civita. A verdade é que naquele tempo eu era muito garoto e subestimava São Paulo, então, por motivos de inadaptação a Sampa voltei ao Rio. Sofri muito com essa precipitada decisão "juvenil", mas, quando se é jovem muitas vezes somos inconsequentes.

VR - Qual foi a matéria mais importante que você cobriu?
FIRMO - Curiosamente, foi na fase que o Mino Carta dirigiu a revista já no chamado descenso, isto é, a publicação estava quase fechando embora fizesse ainda grande sucesso.Foram duas matérias: uma sobre a Amazônia inverno e verão.e a outra, cinquenta anos de arte moderna.

VR - Porque você ficou conhecido como um fotógrafo colorista?
FIRMO - Porque na cor, descobri o Brasil risonho e apaixonado, lascivo e poético.É na cor que sublimamos os encantamentos da vida e o maior ornamento é conviver dentro de um país ufanista no azul profano do céu e na boca escancarada a ostentar a camisa amarela ou vermelha sobre a tez negra orgulhosa.

VR - Você já ganhou premiações importantes, como o Prêmio Esso e o Prêmio Internacional de Fotografia Nixon. O seu trabalho na Realidade ajudou na conquista desses prêmios?
FIRMO - O Prêmio Esso de Reportagem foi um prêmio de texto, uma série de seis reportagens sob o título "100 dias na amazonia de ninguém", cobrindo toda as extensões do rios Amazonas e Negro, reportando a religiosodade, a ação militar, a pobreza, a saúde, o ensino. As fotos também foram minhas.Acho que com este prêmio chamei a atenção da equipe de repórteres que já atuavam na equipe, notadamente o Fernando Mercandante e o Paulo Patarra ... ia me esquecendo, também o Sérgio.

VR - Na nova geração, quem são os expoentes da fotografia no Brasil?
FIRMO - Prefiro não citar nomes para não criar melindres.

VR - Qual a influência do projeto fotográfico da Revista Realidade no Jornalismo Brasileiro?
FIRMO - Influenciou muita gente, foi um marco jornalístico onde a fotografia alinhava-se com o texto e vice-versa.Algumas vezes li as matérias para me compor com as idéias fotográficas incorporadas, alguma luz ou nuance para o alinhamento das intenções.Que grande equipe, que amigos, que saudades, como fui criança!

VR - Existe atualmente alguma revista que tenha um projeto de fotografia parecido com o que era usado na Realidade?
FIRMO - Não.Conversei muito tempo depois com o Roberto Civita, realizando umas fotografias e entrevista que fiz com ele e chegamos a conclusão que hoje a situação política do país não traduz uma publicação com aquela, também os tempos mudaram.
Em outras palavras para terminar: "Camarão que não se sustenta na pedra a onda leva...".

Mais informações, acesse aqui o site de Walter Firmo

terça-feira, 6 de julho de 2010

Realidade no Observatório da Imprensa

por ROBERTA HOERTEL
Jornalista redator do Blog tem artigo publicado no Observatório da Imprensa, no qual cita a Realidade em meio ao contexto da Copa do Mundo.

O dunguismo da imprensa venceu?


Por Carlos Eduardo Caroni

O tempo passa, o mundo muda, mas é curioso notar que o atual jornalismo esportivo brasileiro, ao mesmo tempo em que conta com excelentes profissionais, produz alguns "cientistas da bola" capazes de oferecer equações para solucionar problemas que vão desde questões administrativas a fatores climáticos. Estes também não se cansam de repetir, e adotar como novos, discursos usados muitas décadas antes.

No livro Realidade, 1966-1968, tempo da reportagem na imprensa brasileira, o jornalista J.S. Faro reproduz e analisa a matéria da revista Realidade sobre a decepcionante campanha na Copa de 1966, na Inglaterra. O Brasil, bicampeão mundial, sofreu com uma série de erros na preparação – incluindo a convocação inicial de mais de quarenta jogadores – e saiu ainda na primeira fase.

"`Mas o que aconteceu? Onde está o futebol brasileiro?´, perguntavam os repórteres. Na resposta, uma lista interminável de críticas, entre elas a ante-visão de que `o futebol de hoje exige preparo físico, tática, trabalho de equipe e planejamento inteligente. Exige, enfim, dirigentes à altura do desafio. Por desgraça nossa, não os tivemos´. Era a modernização chegando ao futebol, substituindo a velha concepção – ainda segundo os jornalistas – do exclusivo brilho individual dos atletas como condição determinante das vitórias."

Os abusados e os acuados

Quarenta anos depois, o time que disputou a Copa da Alemanha, em 2006, era formado por jogadores de qualidade indiscutível e, até antes do mundial, vinha fazendo partidas memoráveis. No momento mais importante, porém, os dribles e as trocas de passes envolventes deram lugar a um futebol burocrático que não foi capaz de resistir à atuação impecável do francês Zinédine Zidane. Após a eliminação, o que até então era vendido por boa parte da mídia como "a alegria brasileira", passou a ser oba-oba. Habilidade sem seriedade e comprometimento não seria suficiente. Era isso, segundo os "especialistas", que estava faltando.

Nesse contexto, o surpreendente anúncio de que Dunga seria o treinador da Seleção não era de todo incoerente. Ele não simbolizava tudo o que faltou na campanha anterior? As críticas fariam sentido? O fato de o ex-volante assumir o posto sem experiência anterior realmente o descredenciava? A alegria inconsequente não demandava um novo "discurso da eficiência"? Afinal, o que queriam os profissionais da imprensa? Instalava-se nesse ponto a origem de uma relação conflituosa.

Tentemos entender a difícil convivência entre os "profissionais do futebol". De um lado, jornalistas que têm como base do seu trabalho o questionamento mas, por vezes, passam dos limites; e do outro, aqueles que se sentem acuados e, também exagerando, respondem soltando impropérios para quem quiser ouvir. As entrevistas coletivas, muitas vezes, passaram a ser nada mais do que campos de batalhas.

Um passo em falso

A passagem de Dunga como treinador é um bom exemplo disso. O treinador, a cada crítica, se sentia perseguido. Não apenas pelo trabalho que vinha desenvolvendo, mas também pelo que julgava uma incoerência do discurso da mídia. Não era ele, com seu futebol de poucos recursos, o sinônimo de uma coletividade eficaz? A eficácia desejada não exigiria um "tranco" na improvisação do futebol-arte? Em jogo, estava o sentido preciso da "Era Dunga". As ambiguidades das análises feitas em jornais e televisão eram consequencia de sua primazia. Não seria exatamente o taticismo, hoje condenado, a origem do jornalismo baseado em dados estatísticos e previsibilidade total? Onde o dunguismo dos campos contrariou o das redações?

O "grande erro" de Dunga foi explodir antes da hora. Após a conquista da Copa das Confederações, passou a desafiar os interesses daqueles que não queriam apenas comentar, mas também dirigir a Seleção. Em 2002, muito antes de pensar em ser técnico, afirmara em entrevista à revista IstoÉ Gente que "Scolari carregará para o resto da vida o mérito de ter mantido suas convicções e, com elas, ter levado o Brasil ao penta". Dunga desejava repetir Felipão e, por isso, comprou uma briga da qual dificilmente sairia triunfante. Tratava-se de uma imensa caminhada que poderia ser interrompida por causa de um simples passo em falso. Assim foi, e ele perdeu. Mas fica a pergunta: além dos holandeses, alguém venceu?


Confira o site com o artigo clicando aqui

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Humanizando a reportagem

por CAROLINA MOTTA

Na revista Realidade, "O homem era o centro dos fatos" . É possível observar isso em praticamente todas as reportagens.

Ao descrever uma floresta, uma cidade, o espaço, enfim, isso somente ganhava vida quando os pés descalços do seu Sebastião, ou aquela pobre e desmazelada criança entrava em cena. A paisagem, por mais bela e detalhada que fosse pelo jornalista, na maioria, era apenas o palco, o cenário para o personagem principal: a realidade.

Victor Civita, no primeiro editorial, informou aos leitores qual seria o objetivo e a linha editorial do veículo: "O Brasil vai crescendo em todas as direções. Voltado para o trabalho e confiante no futuro, prepara-se para olhar de frente os seus muitos problemas a fim de analisá-los e procurar solucioná-los." Victor continuou delimitando que a revista fora criada para "homens e mulheres inteligentes que desejam saber mais a respeito de tudo".

Paulo Patarra era o redator-chefe, apoiado por Sérgio de Souza, Narciso Kalili, Luiz Fernando Mercadante, Woile Guimarães, Alessandro Porto e os fotógrafos Roger Bester e Walter Firmo. Os repórteres José Hamilton Ribeiro, Carlos Azevedo, Eurico Andrade, Audálio Dantas, Múcio Borges da Fonseca, Roberto Freire, Roberto Pereira, entre outros, reforçavam o time. As edições ainda contava com personalidades como Carlos Drummond de Andrade, Nélson Rodrigues, Adoniran Barbosa, Carlos Lacerda, Paulo Francis e Plínio Marcos. Até Frank Sinatra cedeu uma contribuição a revista fotografando uma luta ímpar de Muhammad Ali, acompanhado do repórter, ator e político Norman Mailer.

Falando em fotografias, esse era um ponto forte de Realidade. Fotos grandes, algumas ocupavam duas páginas, reforçavam ainda mais o assunto. Muitas vezes elas chocavam. Como no caso de uma reportagem sobre a mulher brasileira, em que um parto foi fotografado - de um "angulo ginecológico". Essa edição foi apreendida dois dias depois de ir às bancas a pedido de dois juizes de Menores. Outro fator que impediu a circulação foi o conteúdo da reportagem. Nela, muitas mulheres quebraram tabus e falaram sobre infidelidade, sexo, virgindade, casamento e aborto. Os juizes julgaram o "conteúdo indigesto". Foi uma das edições mais polêmicas da revista. O caso se arrastou por 20 meses, até que a edição foi liberada.

Uma inovação da medicina foi mostrada na matéria de abril de 1966, intitulada "Os dias da criação". O fotógrafo sueco, num trabalho que demorou sete anos, fotografou um feto de quatro meses e meio dentro do útero. Uma imagem realmente fascinante para a época.

Comparando com as revistas atuais, e guardada as devidas proporções históricas, nenhuma chocou tanto quanto Realidade. Se levada em consideração à época, o choque é maior ainda. Mas esse era o objetivo da revista, mostrar a realidade, nua e crua. Algumas vezes ela vinha nua, como numa reportagem sobre seios da edição de junho de 1972, "Normalmente há sempre 1 de cada lado", em que mostrava muitos seios. Aquilo para a sociedade era um escândalo. Outra vezes era crua. A reportagem sobre a Amazônia mostrava imagens de uma onça totalmente sem a pele e ensangüentada, em carne viva.

Exercendo a função de reportagem social, muitos assuntos como fome, miséria, guerras, religião e política sempre eram pautados. A edição de outubro de 1969 trouxe um ensaio fotográfico mostrando o sofrimento da população, maior vítima da guerra na África.

Mas nenhuma experiência foi tão vivenciada (como já falamos anteriormente) pelo jornalista como na edição de maio de 1968, "Estive na Guerra". O repórter José Hamilton Ribeiro participou da cobertura da guerra do Vietnã, e acabou fatalmente pisando numa mina terrestre perdendo parte da perna esquerda. O repórter descreve todo o sofrimento e recuperação. A matéria mostrava uma foto do jornalista ferido.

Fonte: Canal da Imprensa

sexta-feira, 2 de julho de 2010

"Meninos do Recife" - Roberto Freire

por VANESSA OLIVEIRA

A revista Realidade pôs em discussão um traço histórico da sociedade brasileira, a marginalização social causada pelas modificações do crescimento econômico. A reportagem “Os Meninos do Recife”, de Roberto Freire, vencedora do Prêmio Esso em 1967, trazia um panorama dramático sobre a dificuldade do menor abandonado, considerando-o como uma “preocupação nacional”. Para a revista, era em Pernambuco que esse problema se tornava mais grave, envolvendo organizações religiosas, governamentais e o trabalho assistencial de personagens, às quais o repórter dava tratamento fictício. Eles desvendaram o envolvimento de partes da sociedade civil na finalidade de reduzir as decorrências do fato.

O tratamento textual que Roberto Freire deu a reportagem ganhou a combinações variadas e interessantes, no qual se movimentavam em dois níveis: o institucional, no qual se debatiam as entidades envolvidas com a questão; e o da materialidade do problema do menor abandonado, que escapava aos projetos assistencialistas postos em pratica para solucioná-lo. Na reportagem, esse duplo “significado” adquiria o feitio de um diário que interpunha datas distintas, localizadas entre 1959 e 1967, início e fim da batalha de dois jovens militantes da Organização de Auxilio Fraterno, instituição voltada ao amparo dos meninos do Recife. Paralelamente a isso, a construção do tempo passado e presente, ao mesmo tempo literária e informativa, deslocando permanentemente a ação a visão do leitor, entre textos de jornais da época, informações objetivas sobre a dificuldade e a atividade romanceada de seus protagonistas. Essa dupla extensão do texto tornou a reportagem de Roberto Freire uma das mais significativas da Realidade.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Realidade e Luis Carlos Prestes

por CAROLINA MOTTA

O ano de 1968 ficou marcado pelos acontecimentos políticos, culturais e nas mudanças tão significativas que o mundo sofreu. Porém, como será que ficou a imprensa da época? A Revista Realidade mostrou as diferenças entre notícias, comportamento e visão daquele ano .

Uma reportagem de Paulo Patarra sobre Luis Carlos Prestes é a principal matéria da Realidade de dezembro de 1968. Ele narra como chegou até Prestes, na madrugada de 19 de setembro de 1968 .
Patarra, diretor da revista Realidade, encontrou-se, ainda no escuro, com um homem que aparentava 35 anos de idade, emissário do líder comunista Luis Carlos Prestes, então vivendo na clandestinidade, obvio, em lugar desconhecido e, segundo o jornalista revelaria a seus leitores, com rosto também desconhecido.

A edição de capa de dezembro desse ano, que circulava às vésperas da edição do AI5, trazia um desenho do Cavaleiro da Esperança, com o título: “Este rosto não existe mais” e tinha no seu interior, 14 páginas com uma entrevista exclusiva e reveladora do homem, que naquele tempo de regime militar e forte repressão encarnava o inimigo número um do governo.

O diretor da Realidade encontrou-se com seu interlocutor na madrugada fria paulista. O homem vendou-lhe os olhos com um pano preto e conferiu se tinha cumprido o trato estabelecido de não levar relógio. Em seguida o conduziu até uma perua sem janelas no interior. O jornalista deitou-se num colchão. Uma cortina preta separava a cabine do interior da camionete. Então, descreve Patarra, seguiram viagem durante algumas horas por estradas com muitas curvas, até o carro adentrar numa garagem escura. Com a luz de uma lanterna nos olhos, para que não pudesse identificar a residência, o jornalista foi conduzido até uma sala espaçosa, a meia luz, “um cobertor grosso na janela deixava passar um resto de sol”, onde o entrevistado o aguardava. Patarra teve de ficar a uma razoável distância de Prestes, mas mesmo assim pode observar que o seu rosto não conferia com o dos retratos oficiais e oficiosos.

 A matéria o descreve como um homem “sem rosto” porque havia feito plásticas e mudado de fisionomia ao longo dos quarto anos (1964-1968), e o autor da matéria não tinha certeza se era realmente Prestes, que o tornou ansioso.

O jornalista não soube precisar o roteiro, mas “não sei por que me pareceu que a estrada era a de São Paulo-Belo Horizonte”. Sentiu grande desconforto pelo longo período de escuridão forçada: “Ficar de olhos fechados durante tanto tempo é de um desconforto doloroso. Tão diferente se torna a relação entre a gente e o mundo”. Mas foi na hora de fotografar que sentiu as limitações impostas pelas circunstâncias. Foi-lhe permitido fazer fotos em P&B (”nos não temos possibilidade de revelar filme colorido”) e de perfil. O filme deveria ficar com eles para ser revelado e as fotos, mais tarde, encaminhadas pelo PCB à redação. Patarra bateu 35 fotos, mas a escuridão do ambiente comprometeu o resultado.

Em 29 de setembro recebeu um envelope anônimo com as fotos liberadas. Não aproveitou nenhuma na reportagem que seria ilustrada com fotos de arquivo e a capa com uma ilustração encomendada a um designer.

O resultado dessa reportagem que Realidade definiu “não apenas como um furo jornalístico, mas um documento importante” da história do Brasil, de fato valeu pela exposição do pensamento de uma das mais importantes personalidades da política brasileira no século XX.

A reportagem resultou num Prêmio Esso de Jornalismo para Patarra que teve acesso a Prestes por conta de sua militância no partido na década de 50. Mas, a repercussão não esteve à altura do personagem. É que quando a revista chegou às bancas a mídia discutia um outro assunto: a crise entre o Congresso e o regime militar (episódio Moreira Alves). No dia 13/12 a mídia silenciava de vez perante a exibição de força de tanques e soldados armados e a prisão de jornalistas, respaldada pelo recém sancionado ato institucional número 5.

Obs.: Seria essa a última entrevista do jornalista Patarra em Realidade; logo assumiria o cargo de diretor de novas publicações da Abril.

Fonte: Almanaque da Comunicação -  por Nelson Cadena

quarta-feira, 23 de junho de 2010

"Pedrinho não passa de uma criança"

por ROBERTA HOERTEL

Era essa a chamada de uma matéria da Revista Realidade de setembro de 1968. Há 42 anos a revista parecia escrever sobre a realidade do país pelas décadas subsequentes. “Pedrinho não passa de uma criança – No entanto, dizem os jornais, é um bandido perigoso, que já matou três pessoas e ameaça toda uma cidade.” Talvez seja esta uma das mais atuais matérias da revista.

Ao londo das páginas, Dirceu Soares conta a história de Pedrinho, um adolescente de 14 anos que ficou conhecido em todo o país por seus crimes. Sua história começou na segunda metade dos anos 60, em Vila Clara, Zona Sul de São Paulo. Era acusado de pertencer a uma quadrilha que roubava e matava indivíduos da classe média paulistana.
 A revista mostrou que, já naquela época, meninos de bairros pobres brasileiros “aprendem a fumar maconha, tomar injeção de tóxicos (picada), a beber, a ter relações sexuais com prostitutas, a atirar, e a se familiarizar com o crime”. E nenhum brasileiro acharia estranho caso visse essa mesma reportagem estampar as páginas de um jornal na próxima semana.

A revista não parou por aí e, em maio de 1972, publico um especial dedicado às grandes metrópoles brasileiras. São Paulo, Rio, Porto Alegre, Belo Horizonte, Salvador e Recife estavam ali representadas. E como não podia deixar de ser, nas páginas daquela revista, a violência também estava estampada. Uma longa matéria foi dedicada a assaltos, sequestros-relâmpagos para saque em contas bancárias, homicídios, e o principal, como a população se sentia diante da insegurança que assolava suas vidas.

 Desta vez, o personagem principal era Portuguesinho. O jovem tinha 17 anos e havia formado uma quadrilha composta apenas por jovens adolescentes, que antes mesmo de completarem duas décadas de vida já tinham em seu “currículo” uma série de furtos e homicídios.

 A Revista Realidade acabou, mas a realidade do país continua a mesma.

Realidade e a "Juventude diante do sexo"

por CAROLINA MOTTA

Assim como já citamos, a Realidade chamou a atenção pelo seu aspecto diferenciado em termos do seu formato e diagramação, da construção textual das suas reportagens, bem como pela dimensão dos seus textos. Falamos do seu estilo inovador e também o seu caráter “audacioso” e até “transgressor”, em virtude da abordagem que dava às questões pertinentes ao campo político e comportamental.

Em outro post, mostramos essa característica da Revista Realidade, ao falar da matéria sobre  “A mulher brasileira, hoje”, na qual, segundo o editorial de apresentação, ela pretendia discutir com seus leitores a revolução tranqüila e necessária, mas nem por isso menos dramática, que a mulher brasileira estava realizando naquele momento.  Tal edição foi embargada o juiz da Vara de menores considerou o conteúdo da revista obsceno, profundamente ofensivo à dignidade e à honra da mulher, bem como ao pudor moral e aos bons costumes.

Agora, falaremos de outra matéria polêmica da Revista.
Aonteceu em agosto de 1966, quando a revista publicou uma matéria intitulada “A Juventude diante do sexo”, que trazia a primeira parte dos resultados de uma pesquisa onde mil jovens, dentre moças e rapazes do RJ e SP, entre 18 e 21 anos, responderam a um questionário que tinha o objetivo de descobrir o que eles conheciam, falavam e faziam a respeito da sua sexualidade.
Os planos da revista Realidade eram apresentar aos leitores, no mês seguinte, setembro de 1966, a conclusão dessa pesquisa, o que, não foi possível, já que a revista recebeu uma advertência do Juiz de menores da Guanabara, Alberto Cavalcanti de Gusmão, comunicando que apreenderia aquela edição da revista caso publicasse a conclusão da tal pesquisa que, do seu ponto de vista era “Obscena” e “chocante”. Diante dessa advertência, a revista Realidade respondeu com um editorial, onde explicava aos seus leitores que havia suspendido.

Fonte: A juventude diante do sexo. Realidade, São Paulo: Editora Abril, n.6, Set. 1966.