segunda-feira, 5 de julho de 2010

Humanizando a reportagem

por CAROLINA MOTTA

Na revista Realidade, "O homem era o centro dos fatos" . É possível observar isso em praticamente todas as reportagens.

Ao descrever uma floresta, uma cidade, o espaço, enfim, isso somente ganhava vida quando os pés descalços do seu Sebastião, ou aquela pobre e desmazelada criança entrava em cena. A paisagem, por mais bela e detalhada que fosse pelo jornalista, na maioria, era apenas o palco, o cenário para o personagem principal: a realidade.

Victor Civita, no primeiro editorial, informou aos leitores qual seria o objetivo e a linha editorial do veículo: "O Brasil vai crescendo em todas as direções. Voltado para o trabalho e confiante no futuro, prepara-se para olhar de frente os seus muitos problemas a fim de analisá-los e procurar solucioná-los." Victor continuou delimitando que a revista fora criada para "homens e mulheres inteligentes que desejam saber mais a respeito de tudo".

Paulo Patarra era o redator-chefe, apoiado por Sérgio de Souza, Narciso Kalili, Luiz Fernando Mercadante, Woile Guimarães, Alessandro Porto e os fotógrafos Roger Bester e Walter Firmo. Os repórteres José Hamilton Ribeiro, Carlos Azevedo, Eurico Andrade, Audálio Dantas, Múcio Borges da Fonseca, Roberto Freire, Roberto Pereira, entre outros, reforçavam o time. As edições ainda contava com personalidades como Carlos Drummond de Andrade, Nélson Rodrigues, Adoniran Barbosa, Carlos Lacerda, Paulo Francis e Plínio Marcos. Até Frank Sinatra cedeu uma contribuição a revista fotografando uma luta ímpar de Muhammad Ali, acompanhado do repórter, ator e político Norman Mailer.

Falando em fotografias, esse era um ponto forte de Realidade. Fotos grandes, algumas ocupavam duas páginas, reforçavam ainda mais o assunto. Muitas vezes elas chocavam. Como no caso de uma reportagem sobre a mulher brasileira, em que um parto foi fotografado - de um "angulo ginecológico". Essa edição foi apreendida dois dias depois de ir às bancas a pedido de dois juizes de Menores. Outro fator que impediu a circulação foi o conteúdo da reportagem. Nela, muitas mulheres quebraram tabus e falaram sobre infidelidade, sexo, virgindade, casamento e aborto. Os juizes julgaram o "conteúdo indigesto". Foi uma das edições mais polêmicas da revista. O caso se arrastou por 20 meses, até que a edição foi liberada.

Uma inovação da medicina foi mostrada na matéria de abril de 1966, intitulada "Os dias da criação". O fotógrafo sueco, num trabalho que demorou sete anos, fotografou um feto de quatro meses e meio dentro do útero. Uma imagem realmente fascinante para a época.

Comparando com as revistas atuais, e guardada as devidas proporções históricas, nenhuma chocou tanto quanto Realidade. Se levada em consideração à época, o choque é maior ainda. Mas esse era o objetivo da revista, mostrar a realidade, nua e crua. Algumas vezes ela vinha nua, como numa reportagem sobre seios da edição de junho de 1972, "Normalmente há sempre 1 de cada lado", em que mostrava muitos seios. Aquilo para a sociedade era um escândalo. Outra vezes era crua. A reportagem sobre a Amazônia mostrava imagens de uma onça totalmente sem a pele e ensangüentada, em carne viva.

Exercendo a função de reportagem social, muitos assuntos como fome, miséria, guerras, religião e política sempre eram pautados. A edição de outubro de 1969 trouxe um ensaio fotográfico mostrando o sofrimento da população, maior vítima da guerra na África.

Mas nenhuma experiência foi tão vivenciada (como já falamos anteriormente) pelo jornalista como na edição de maio de 1968, "Estive na Guerra". O repórter José Hamilton Ribeiro participou da cobertura da guerra do Vietnã, e acabou fatalmente pisando numa mina terrestre perdendo parte da perna esquerda. O repórter descreve todo o sofrimento e recuperação. A matéria mostrava uma foto do jornalista ferido.

Fonte: Canal da Imprensa

Um comentário:

  1. Belas matérias postadas neste blog

    Tenho acomponhado o blog e sempre me deparo com matérias interessantes, e além de tudo pude conhecer um pouco mais sobre a Revista Realidade.
    Todas as faculdades deveriam passar trabalham assim para os alunos, pois mistura a tecnologia da internet com a o passado de uma revista de sucesso.

    Parabéns aos alunos responsáveis!

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